ONG leva lâmpadas solares feitas com garrafas PET para comunidades sem luz

Até novembro de 2021, Ivani Nóbrega da Silva e os demais moradores da região do Pós-Balsa, em São Bernardo do Campo (SP), pouco saíam de casa depois do cair da noite. “A gente tinha medo de sair depois das 19h. As pessoas chegavam do trabalho, entravam em casa e não se via mais ninguém. Para andar na rua, a gente usava a lanterna do celular para poder enxergar”, conta. A comunidade fica a menos de 60 km da Avenida Paulista, mas a falta de iluminação pública dava a impressão de que estava a milhares de quilômetros do maior centro urbano do país. Ivani foi um dos primeiros contatos do Litro de Luz, uma ONG que leva iluminação solar a locais sem acesso à energia elétrica, na comunidade. Em pouco tempo, ela conseguiu convencer seus vizinhos a participarem de encontros com a organização, apresentou a proposta da ação aos demais moradores, aprendeu sobre os materiais utilizados e, junto com outros voluntários, construiu os postes que hoje iluminam a região. Por essa responsabilidade, ela recebeu o título de embaixadora local do Litro de Luz.

“Desde então, a comunidade voltou a ter um pouco de esperança em relação aos projetos que aparecem por aqui. As pessoas sugeriam melhorias, mas nunca cumpriam. O Litro cumpriu e cumpriu rápido. Isso favoreceu muito a comunidade, a comunicação e o diálogo entre os vizinhos que quase não se falavam, porque saíam pela manhã e voltavam à noite”, diz. A realidade de Ivani não é exceção. No Brasil, um milhão de pessoas não têm acesso à energia elétrica em suas casas e seis milhões vivem em áreas sem iluminação pública. E é pensando na melhora da vida dessas pessoas que os voluntários do Litro de Luz constroem postes e lampiões solares compostas por materiais de baixo custo, como garrafa PET e canos PVC, placas solares, baterias e LEDs.

Mais de 17 mil pessoas impactadas O lampião do Litro de Luz contém uma placa solar que pode ficar carregando durante o dia na janela da casa dos moradores e, à noite, pode ser desconectado dessa placa para ser usado para a iluminação dentro ou fora de casa Imagem: Divulgação O embrião da iniciativa nasceu em 2001 quando, durante a crise energética que assolou o país, o mecânico brasileiro Alfredo Moser criou uma lâmpada de 60 W a partir de alvejante, água e uma garrafa PET. A ideia foi adaptada pelo filipino Illac Diaz, que criou o movimento Liter of Light em 15 países. A organização tomou forma no Brasil em 2014, e desde então já impactou a vida de 17 mil pessoas em 120 comunidades espalhadas por todas as regiões do país. Atualmente, a ONG conta com 200 voluntários, é parceira da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica e da britânica EDF Energy, e seus os projetos são financiados por empresas que doam recursos e engajam seus próprios funcionários como voluntários das ações. A iniciativa que iluminou a comunidade de Ivani, por exemplo, foi patrocinada pela Volkswagen, que tem fábrica na cidade. Bloomberg, Azul, Enel, Kroton e 99Jobs são algumas das companhias que já desenvolveram parcerias com o Litro.

Por levarem iluminação solar a locais sem acesso à energia ou sem luz nas ruas, os conceitos de sustentabilidade econômica e ambiental são pilares fundamentais na ONG. “A iluminação solar é uma fonte renovável de energia, diria até que é uma das principais, pois a luz solar é uma fonte abundante. Quanto à sustentabilidade econômica, nossas soluções só precisam da luz solar para funcionar diariamente, sendo uma excelente forma de economia para as comunidades”, explica a diretora de marketing do Litro, Tayane Belem.

Luz em qualquer lugar

Lampiões do Litro de Luz - Divulgação - Divulgação

Mais que uma fonte de energia renovável e limpa, a energia fotovoltaica pode ser usada em áreas distantes da rede elétrica tradicional e requer conhecimentos simples para manutenção. E essa facilidade se conecta com outro princípio da ONG, que é a autonomia e o desenvolvimento comunitário. Desde os contatos iniciais com a comunidade, o planejamento da disposição dos postes, sua construção e manutenção, tudo é executado para que as pessoas que vivem nessas áreas não apenas participem, mas tenham protagonismo na melhora da sua qualidade de vida.

“Além de entregar a solução, precisamos ter esse engajamento dos moradores em todas as ações que fazemos. Iniciamos o nosso trabalho cerca de três meses antes do dia da instalação, então a gente realiza um grande pré-ação. Fazemos várias visitas na comunidade, reuniões para explicar o trabalho, instalamos postes modelos para chamar as pessoas para os dias em que a montagem e a instalação vão realmente acontecer. Também fazemos um mapeamento de quais famílias vão receber os lampiões solares e traçamos junto com eles quais são os principais pontos que precisam ser iluminados”, explica Belem.

Os esforços do Litro nos âmbitos de desenvolvimento social, ambiental e de novas tecnologias foram reconhecidos com os prêmios de tecnologia social da Fundação Banco do Brasil, pelo St Andrews Prize, do Reino Unido, pelo Zayed Future Energy Prize, considerada a premiação mais importante do mundo em energia sustentável, e pelo World Habitat Awards, da ONU.

Fonte Ecoa Uol

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